O corpo árvoreAs árvores sempre exerceram grande fascínio. Ao voltar os olhos para minhas raízes, um dos raros registros fotográficos de família ainda em terra natal, mostra meus antepassados em frente a uma casinha de madeira, numa grande área verde florestada. Uma foto de despedida do lugar. Um agradecimento pela acolhida até então e um desejo de sorte rumo a um mundo novo. Eram agricultores, assim como as gerações seguintes, deste lado do oceano, e tinham um contato de muita sabedoria com as árvores.
Cada árvore no contexto da metrópole parece insurgir uma revolta ou resistência. Seu corpo carrega a potência de lugar: não apenas de um contexto antecedente a urbanização - portanto, ao passado - mas de uma força que pode retomar o seu lugar - como questionamento da qualidade da mudança, uma alternativa de presente. Hoje sabemos que sua aparente passividade só existe aos olhos de quem vive menos e mais rápido que elas. Na verdade, são seres que crescem de uma demanda de dentro para fora e estão o tempo todo em locomoção, através do próprio crescimento. Possuidoras de memória de ciclos, com estratégias próprias de adaptação e de reprodução. Sua revolução silenciosa, como afirma Stefano Mancuso, está principalmente em suas raízes: cada micro ápice têm autonomia como indivíduo próprio e suas ações são levadas em consideração para o movimento da árvore toda, mesmo sem um sistema nervoso central, como um enxame de abelhas explorando o solo. Apresentando uma organização menos centralizada, cooperativa e menos hierarquizada, as árvores nos inspiram uma organização social mais eficiente e democrática. Uma possibilidade de termos uma sociedade em harmonia entre seus membros e em equilíbrio com o ambiente ao seu redor, como os nossos antepassados. xilogravura papel gampi dimensões variáveis 2010 a 2019 |